Biologia Molecular e a Comida de Verdade Promovendo Saúde
Inteligência Artificial na Cozinha: Biologia Molecular e a Comida de Verdade Promovendo Saúde
O Relatório Mundial de Saúde (OMS, 2002) avaliou que um percentual importante dos fatores de risco em nível global para morbimortalidade é de ordem nutricional, e a consolidação e a interpretação dos dados se dá a partir de estudos realizados pela epidemiologia nutricional, que atualmente é um campo cada vez mais importante na proposição de estratégias e políticas públicas com vistas ao controle de doenças relacionadas a carência nutricional, assim como orientar o setor de Saúde nas políticas públicas dedicadas a influenciar o consumo alimentar adequado à população.
A alimentação é um dos temas de abordagem da Política Nacional de Promoção da Saúde e um dos maiores fatores ambientais que exercem efeitos sobre o bem-estar e a saúde, confirmando ditado popular: “você é o que você come”.
O padrão de alimentação influencia na qualidade de vida, na resistência a doenças, como a síndrome metabólica, doenças inflamatórias e o câncer. As doenças podem ser decorrentes de predisposições genéticas, agravadas pelo estilo de vida e por alterações epigenéticas (influência dos fatores ambientais e expressão de genes). Estas são definidas como um tipo de herança genética não relacionada a modificações na sequência nucleotídica do DNA (A,C,T,G), mas responsáveis por um grande repertório de características.
A alimentação adequada é essencial para que possamos oferecer ao nosso corpo componentes indispensáveis o funcionamento, manutenção da saúde, nutrição e bem-estar do indivíduo. Será que é possível combinar o estilo de vida alimentar com as nossas características genéticas? Um teste genético pode ajudar a atingir seus objetivos e personalizar sua alimentação e bem-estar de maneira inteligente? Estamos na era da “Medicina Preventiva” e da “Medicina Personalizada”.
E a Inteligência Artificial? A Inteligência Artificial (IA) é um ramo de pesquisa da ciência da computação que busca, utilizando símbolos computacionais, construir mecanismos e/ou dispositivos que simulem a capacidade do ser humano de pensar e até otimizar a resolução de problemas. IA tem crescido exponencialmente, estimulada pelo aumento do número de dados disponíveis. Observamos o mesmo fundamento no caso das recomendações da Netflix ou Spotfy e no reconhecimento facial em fotos do Facebook. IA também é aplicada em uma espécie de curadorias de alimentação saudável, na prescrição de alimentos saudáveis adequados para cada um.
Neste debate, com especialistas nas diferentes áreas das ciências biológicas e da saúde, os conceitos de genética, epidemiologia e alimentação saudável, assim como receitas de comidas saborosas, com alguns dos ingredientes com moléculas moduladoras que interagem com estruturas moleculares e interferem positivamente na saúde e o bem-estar.
Epidemiologia Nutricional – Uma
ferramenta para entender a alimentação saudável
A epidemiologia desenvolveu modelos de estudos mais adequados à busca pelo conhecimento do processo de saúde-doença a partir do século XIX, que atrelado a ferramentas matemáticas e de bioestatística, permite delinear a trajetória dos processos de adoecimento de uma população a partir da identificação e ação dos possíveis agentes causadores do processo em relação a um determinado espaço por um período de tempo.
Hoje
sabemos que diferentes fatores podem favorecer ao processo de adoecimento, e
são conhecidos como Determinantes Sociais de Saúde (DSS) que variam de
magnitude como, os macrodeterminantes ou determinantes distais que determinam,
por exemplo, a influência da economia de um país sobre o processo de
adoecimento de uma população, ou ainda, os
microdeterminantes sociais ou determinantes proximais que na mesma
perspectiva também interferem, com por exemplo, a herança genética que
predispõe ou não ao desenvolvimento de doenças específicas.
Cabe salientar que diferentes fatores compõe os
cenários de vida de um grupo ou população e é insumo nesta dinâmica complexa, e
contribuem fortemente para que processos de adoecimento se desenvolvam, como
por exemplo o acesso a alimentação saudável e a ingesta nutricional mínima
diária.
A Epidemiologia Nutricional é um campo dentro
da Epidemiologia clássica que ganhou impulso na década de 1990, e se propõe a
medir a influência das diferentes dietas como um fator de exposição na maior ou
menor ocorrência de doenças. O alcance desse objetivo constitui-se em tarefa
complexa que requer cada vez mais estudos bem delineados que considerem tanto
outras exposições como as alterações nutricionais específicas. Cabe ressaltar que
às exposições, além da aferição do consumo alimentar, devem ser incluídos
outros indicadores de avaliação nutricional e variáveis relacionadas ao estilo
de vida que exercem influência sobre as condições de saúde e nutrição, como por
exemplo, a prática de atividade física.
Referências:
AYRES, José Ricardo de Carvalho Mesquita. Desenvolvimento histórico-epistemológico da Epidemiologia e do conceito de risco. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 27, n. 7, p. 1301-1311, July 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2011000700006&lng=en&nrm=iso>. access on 16 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2011000700006.
BUSS, Paulo Marchiori e PELLEGRINI FILHO, Alberto. A Saúde e seus Determinantes Sociais. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):77-93, 2007. Available from. https://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a06.pdf . Acess on 16 oct 2020.
KAC, G., SICHIERI, R., and GIGANTE, DP., orgs. Epidemiologia nutricional [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ/Atheneu, 2007. 580 p. ISBN 978-85-7541-320-3. Available from SciELO Books in https://static.scielo.org/scielobooks/rrw5w/pdf/kac-9788575413203.pdf . Acess on 16 oct 2020.
As mudanças culturais ocorridas
nas últimas décadas levaram a uma mudança no perfil alimentar da população
brasileira. Deixamos de nos alimentar com “comida de casa” e passamos a
consumir mais refeições rápidas, os famosos “Fast Foods”. Alimentos ricos em carboidratos simples, gorduras
saturas e trans, sal e açúcar. Tudo
isso alterou o perfil epidemiológico do brasileiro, levando ao aumento de
doenças cardiovasculares, Diabettes
melittus tipo 2, Hipertensão e alguns tipos de cânceres.
Com
essa perspectiva, em 2014 foi lançada uma atualização do Guia Alimentar para a
População Brasileira, focando em uma retomada de hábitos saudáveis, focando a
alimentação mais natural, priorizando alimentos in natura e minimamente processados, e o consumo da chamada “comida
de verdade”, aquela preparada no nosso lar, com receitas de família, sem adição
de grandes quantidades de açúcares e sal.
Ocorre
nesse momento um incentivo a retomada do hábito de “ir para cozinha”,
utilizando ingredientes in natura e
minimamente processados, e reduzindo a utilização de ingredientes culinários
processados, como açúcar, sal, óleos, e dando espaço para a adição de temperos
e azeites, alimentos ricos em compostos bioativos, que auxiliam não só na
nutrição, mas também na melhora de outros aspectos da saúde.
Essas
preparações são ricas em sabor, nutrientes saudáveis, e moléculas com atividade
funcional, nutrindo e prevenindo várias doenças, além de enriquecer o convívio
familiar, estreitando laços e ativando lembranças culturais.
As
preparações culinárias são estimuladas e se tornam a base da alimentação
saudável que permitem “diversificar sabores, aromas, cores e texturas, de
acordo com as preferências regionais e pessoais” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, p. 56,
20014).
Em
receitas de pães por exemplo, podemos ter a incorporação de vários nutrientes
funcionais, como na preparação abaixo:
·
4 Xc de chá de farinha de trigo integral
·
2 col. De sopa de aveia
·
2 col de sopa de açúcar mascavo
·
½ Xc de chá de azeite de oliva
·
1 col de chá de sal
·
1 e ½ xc. De água morna
·
2 col de chá de fermento
Créditos “@Comidinhasdadiana”.
Nessa receita, temos a farinha de
trigo integral rica em fibras, e carboidratos complexos, que auxiliam na
redução do índice glicêmico e melhora da saúde intestinal, a aveia que
apresenta vários desses componentes como a farinha de trigo integral, e um
composto bioativo importante as betaglucanas que auxiliam também na redução da
absorção de colesterol, auxiliando na melhora de casos de hipercolesterolemia,
o açúcar mascavo, que mesmo sendo fonte de carboidratos simples, ainda sofre
menos etapas de refino, mantendo nutrientes importantes como minerais e
vitaminas, nutrientes reguladores de várias funções bioquímicas, e o azeite,
rico em lipídios insaturados, que auxiliam na melhora do perfil lipídico
sanguíneo.
Assim,
em uma refeição simples como desjejum e lanche, podemos incluir nutrientes
diversificados e importantes para a saúde em geral, estimulando hábitos
nutricionais saudáveis, refletindo numa melhora, a curto e a longo prazo, das
doenças crônicas não transmissíveis.
A alimentação adequada é
essencial para que possamos oferecer ao nosso corpo componentes indispensáveis ao
funcionamento, manutenção da saúde, nutrição e bem-estar do indivíduo. Será que
um teste genético pode ajudar a atingir seus objetivos e personalizar sua
alimentação com base no seu DNA?
Sim, os marcadores genéticos
possibilitam conhecer como cada pessoa metaboliza açucares, gorduras,
nutrientes, vitaminas, cafeína e até o álcool. Além da preferência do indivíduo
por alimentos doce ou salgado, a sensibilidade ao gosto amargo, ao aspargo e ao
coentro, por exemplo. Um teste genético também pode indicar se um indivíduo tem
ou não uma alteração genética em um dos genes associados com a obesidade, diabetes
e com os níveis de colesterol. Pode indicar as intolerâncias alimentares, como
por exemplo, a lactose e ao glúten.
A genética e os testes
genéticos podem ser aplicados na prática clínica para o diagnóstico e
tratamento de doenças, sempre com um aconselhamento genético de um profissional
capacitado (o geneticista). Os testes “rápidos” e atualmente acessíveis a uma
pequena parcela da população, já que custam em torno de mil reais, podem trazer
informações curiosas e interessantes sobre o perfil do indivíduo que busca
autoconhecimento sobre o que o seu DNA diz sobre as características que você
expressa. Informações como a textura do cabelo e da cera do ouvido, se tem
caspa, joanete, covinhas nas bochechas, fenda no queixo, sobre o medo de
altura, de falar em público, afinação musical, comportamento do sono, entre
outras curiosidades (“inúteis”). Pode também indicar a alimentação mais
adequada para o seu metabolismo, a sua composição muscular e desempenho com os
exercícios físicos. Contudo, é preciso cautela!!! O acesso aos testes genéticos
“rápidos” ainda não garante de forma eficiente e segura sobre qual o alimento e
treinamento físico personalizado ideal para você. É necessário um
acompanhamento nutricional e esportivo com profissionais capacitados.
Reflita sobre seus hábitos
alimentares e esportivos, sobre o desperdício e como é possível mudar para uma
vida mais saudável. Pequenas atitudes podem melhorar muito a sua saúde e o seu
bem-estar!
A segurança alimentar, que
significa ter uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade
suficiente e de modo permanente, infelizmente, não é a realidade de muitos
brasileiros. Antes de disponibilizar teste genético para indicar o perfil
nutricional ou a alimentação perfeita para cada indivíduo, é preciso garantir
uma segurança alimentar para TODOS!
Nosso grupo de pesquisa trabalha para desenvolver um teste genético que possa auxiliar os atletas na prevenção de lesões. Entre no site e confira nossos artigos científicos, notícias e linhas de pesquisa. Link: https://lapesfuezo.wixsite.com/website
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